terça-feira, agosto 09, 2005

Atacar vs defender

Neste momento o FCPorto é já uma equipa assumidamente vocacionada para atacar. Assume-o no sistema (4-3-3) e no desdobramento dos jogadores em campo que procuram dar expressão às ideias do treinador. Por outro lado, a defesa comete lapsos que por vezes são fatais e dão origem a golos do adversário, sobretudo quando o FCP joga em 3-4-3, o que tem dado origem a uma compreensível preocupação, até porque ainda se assiste à falta de eficácia na concretização das oportunidades de golo por parte dos nossos avançados. Isto leva à questão: O que é prioritário? Defender bem ou atacar bem?

Lembrei-me então de um dos melhores treinadores que já passaram pelo futebol português e que privilegiava os mecanismos ofensivos como ninguém: Sir Bobby Robson. Este era sem dúvida um treinador que proporcionava futebol espectáculo com as suas equipas. Em campo viam-se 11 jogadores a proporcionar avalanches ofensivas com um killer instinct fabuloso numa filosofia que assentava na ideia de que se marcassemos mais golos que o adversário inevitavelmente ganharíamos o jogo.

Em Maio de 1995, depois de se sagrar campeão, Bobby Robson concedeu à Revista Dragões uma entrevista na qual expôs ao seu estilo as ideias que alimentava e aplicava na equipa. Aqui fica um excerto:

(...)

Dragões (D) - (...) a partir de determinada altura a equipa passou a evidenciar um "killer instinct"...

Bobby Robson (BR) - Desenvolvemos bem o conceito de Killer Instinct. Tentámos manter um ascendente permanente. Procuramos estar sempre em boa posição durante todo o jogo. Não nos interessa iniciar o desafio com calma porque ainda está nos primeiros minutos e é preciso primeiro aguentar e assentar o jogo. É claro que isso é importante, mas não é suficiente para o FCPorto, já que pretendemos dar pelo menos a ideia de que vamos ganhar. É evidente que nem sempre resulta mas a intenção está lá e é só uma: ganhar. Então, se marcamos um golo está bem, é óptimo, mas vamos lá tentar outro. E se obtivermos outro, excelente, mas o jogo continua e vamos procurar ainda outro golo. Temos de continuar a atacar e atacar, para obtermos tantos golos quanto pudermos.

D - Não foi por acaso então que o F.C.Porto obteve golos muito cedo em várias partidas?

BR - Não, de modo nenhum. Foi uma atitude deliberada. As coisas não acontecem assim, de geração espontânea. Procuramos deliberadamente marcar cedo.

D - É assim importante marcar cedo?

BR - Bom... veja o jogo com o Amadora. Zero, zero. Os minutos passam e está zero, zero. O tempo corre e não há golos. Cada vez fica mais difícil. O adversário percebe que o tempo, a partir de determinada altura começa a correr a seu favor. Então fecham-se cada vez mais e torna-se extremamente difícil penetrar naquelas defesas cheias de pernas e cabeças por todo o lado. Com o Marítimo sucedeu o mesmo. Marcaram primeiro e, de repente, passaram a fechar-se de tal modo que não conseguíamos aproximar-nos da baliza.
Ainda assim conseguimos lá chegar mas eles procuraram defender de qualquer maneira. Logo, o marcar cedo não é resultado do acaso ou da sorte. É uma opção vital para a concretização da nossa estratégia.

(...)

D - Quando chegou ao FCP teve de fazer alguma mudança essencial? (Nota do Zé do Boné: Substituiu Tomislav Ivic)

BR - Claro que reestruturei a equipa. Acabámos com o sistema dos três centrais. Não o uso. Penso que estava ali um jogador a mais, sobretudo quando temos dois excelentes centrais. Mas atenção, não precisamos dele ali, a central, mas precisamos de mais um jogador lá à frente. Muitas vezes o adversário joga apenas com um avançado. Então temos um contra três. Se joga com dois, muito bem, temos lá dois centrais. São dois contra dois. O que precisamos é de um jogador colocado mais lá à frente, numa posição mais avançada, para que nos seja possível atacar com mais jogadores. Isso é muito importante. (...) Os jogadores gostam desta maneira de jogar.

D - E o público?

BR - É muito importante o público. E porque é que o público começou a regressar ao estádio? Porque gostam do que veêm. É um divertimento. Se se pretende ter o público de volta ao futebol é preciso entretê-lo, dar-lhe espectáculo. Porque é que se vai ver um filme? Porque é um bom filme. Se for mau as pessoas não vão. Com o futebol passa-se o mesmo. Se a equipa estiver a jogar mal, as pessoas não vão ver. Logo, o futebol é uma forma de espectáculo.

(...)

Inesquecível este Bobby Robson, as suas entrevistas, as goleadas e os golos do FCP logo no primeiro minuto.

imagem tirada daqui

9 comentários:

Anónimo disse...

Um Sir de Sua Majestade.

DanielAraujo disse...

a dupla domingos/kostadinov...
que saudades...

Anónimo disse...

o Sr. Bobby Robson traz boas recordações

David Caetano disse...

De facto a dupla Domingos/Kostadinov (vou-lhe dedicar um post um dia destes) era fabulosa. Aliás, Kostadinov foi um dos grandes avançados estrangeiros que passaram pelo F.C.P. Curiosa foi a forma como foi inesperadamente e subitamente dispensado logo no primeiro ano completo de Bobby Robson, sendo emprestado ao Deportivo da Coruña. Consta que o jogador terá faltado ao funeral de Rui Filipe para poder aproveitar a folga e Pinto da Costa nunca lhe perdoou.

Anónimo disse...

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JFFR disse...

What?!! lol

A época 1995/1996 foi aquela em que comecei a acompanhar o FCP mais atentamente e posso dizer que tenho grandes memórias desse belo ano. Grande equipa... :)

DanielAraujo disse...

Depois de dentistas temos agora casamenteiros no vosso blog.


Isto está a ficar giro tá

David Caetano disse...

Planos dentários, casamento, este é de facto um blog eclético...

Anónimo disse...

Vitor Baía, Cândido, Vitor Nóvoa, João Pinto, Aloísio, Zé Carlos, Rui Jorge, Jorge Costa, Secretário, Bandeirinha, Emerson, Paulinho Santos, Kulkov, André, Jorge Couto, Semedo, Jaime Magalhães, Rui Filipe, Domingos, Rui Barros, Folha, Drulovic, Yuran, Latapy, Raudnei e Kostadinov.
Relembrando a equipa de 94/95.