quinta-feira, janeiro 21, 2016

José Peseiro, treinador mas não milagreiro


Chegou a hora de José Peseiro. O técnico português foi hoje oficialmente apresentado treinador da equipa principal de futebol para os próximos 18 meses, cabendo-lhe para já a árdua tarefa de completar uma época que está bem longe de corresponder às expectativas dos adeptos e dirigentes do F.C.Porto.

Esta não é uma escolha consensual. Trata-se de um treinador com um currículo curto em termos de títulos e cuja carreira ficou manchada pela "quase vitória" do Sporting na final da Taça UEFA de 2005. É no entanto algo injusto para o técnico que, para chegar à final e depois de passar a fase de grupos, eliminou o Feyenoord, o Middlesbrough, o Newcastle e o AZ Alkmaar de Co Adriaanse (cuja performance levou a que o técnico holandês chegasse ao Porto na época seguinte), antes de perder a final contra uma equipa que já tinha eliminado o Benfica. 

Trata-se também de um técnico que, pegando na equipa na 2ª Divisão, trouxe o Nacional para o campeonato principal do futebol português e também de um técnico que, na sua curta passagem pela cidade dos arcebispos, conquistou a Taça da Liga ao serviço do Braga. Tanto na Madeira como em Braga e até no Sporting, Peseiro pôs as suas equipas a praticar um futebol interessante e não o consideramos um mau treinador.

O problema poderá estar no timming da sua chegada ao Porto e na tarefa hercúlea que o espera. O plantel que o espera não foi escolhido por si e foi destinado a um estilo de futebol radicalmente diferente daquele que o técnico prefere. Vai encontrar um conjunto de jogadores nervosos e até alguns desmotivados, um balneário com poucas referências e vai ter de gerir a equipa nas 3 frentes em que ainda compete.

Será pois um erro colossal colocar também o treinador sob pressão ao exigir grandes brilharetes já este ano. Com o fosso a cavar-se para o duo da frente no Campeonato, e sabendo nós que chicotadas raramente resultam em campeonatos, com uma liga Europa muito competitiva, estando já o Dortmund à espera do F.C.Porto, a Taça de Portugal afigura-se como o único troféu ao qual o Porto é claramente candidato.

Têm agora a palavra os jogadores. Para já, resta-nos dar as boas vindas a José Peseiro e desejar-lhe boa sorte.

quarta-feira, janeiro 20, 2016

Famalicão 1 x 0 F.C.Porto - Não podíamos ter jogado com a equipa B?


23 anos depois, Mauro sucedeu a Vieira como besta negra famalicense nos pesadelos dos adeptos do F.C.Porto. Os dragões deram hoje mais uma vez uma pálida imagem de si próprios e raras foram as vezes em que foram capazes de se acercar com perigo da baliza do Famalicão. Cá atrás, desta vez foi Helton a facilitar e a permitir um golo, confirmando-se de forma precoce o afastamento da Taça da Liga.
 
Para o último jogo como treinador interino, Rui Barros optou por rodar jogadores menos utilizados e dar uma hipótese aos jogadores da equipa B. Outro factor relevante foi a estreia do avançado Suk com a camisola do F.C.Porto. Ora foram precisamente os jovens da B (onde incluo André Silva) e Suk os melhores em campo, pelo simples facto de terem suado generosamente a camisola. De resto, ver jogar este Porto, foi um exercício de dor em câmara lenta.
 
Num terreno muito irregular, o F.C.Porto foi mais uma vez dominador sem ser perigoso. De que vale a pena ter a posse de bola se não for para procurar o golo? O Famalicão resguardou-se e esperou pelo desenrolar dos acontecimentos, sabendo de antemão que se o marcador ficasse a zero, o Porto se iria intranquilizar e depois... quem sabe não haveria um golpe de sorte?
 
Quando se chegou ao intervalo, os lances de maior perigo até então tinham sido criados por André Silva em rasgos individuais, tendo num deles servido Suk que atirou para defesa atenta do guarda-redes contrário.
 
Na segunda parte, a toada não se alterou até que surgiu o golo do Famalicão e a partir daí o jogo mudou. O Porto deixou de ter critério, os jogadores começaram a falhar passes e o Famalicão começou a gerir o tempo, como aliás lhe competia. As alterações de Rui Barros, trocando um desastrado Rúben Neves, um apático Imbula e, mais tarde, um esgotado André Silva por Corona, Francisco Ramos e Ismael, respectivamente, ainda espevitaram um pouco as coisas mas sem resultados práticos.
 
Corona agitou um pouco o jogo, Francisco Ramos foi guerreiro e Ismael teve poucas hipóteses. Com um Jose Angel a continuar a persistir na sua piada privada de fazer cruzamentos que colocavam em risco a Estação Espacial Internacional, Varela pouco esclarecido e o meio campo sem produção, o jogo acabou por chegar ao fim com o golo solitário de Mauro a dar a vitória do Famalicão, apesar de, por duas vezes, novamente Suk ter estado perto do golo, tendo mesmo atirado à barra.
 
Está confirmada a eliminação do Porto da Taça da Liga que se antevia desde a derrota com o Marítimo no Dragão e cai o pano sobre o período de transição liderado por Rui Barros, saldando-se por duas vitórias, ambas frente ao Boavista (5-0 e 1-0) e duas derrotas por números iguais, frente a Guimarães e Famalicão (0-1).
 
Começa agora um novo ciclo mas será errado esperar milagres.
 

segunda-feira, janeiro 18, 2016

Vitória SC 1 x 0 F.C.Porto - Alguém pode falar em surpresa?



Depois da saída do treinador com quem os jogadores, ao que parece, já não se davam, depois de uma vitória gorda na última jornada, depois de um apuramento para as meias-finais da taça à custa de muito sofrimento e com um final quase épico e depois de um surpreendente Tondela conseguir ir a Alvalade roubar pontos ao 1º classificado, o F.C.Porto tinha motivação mais que suficiente para lutar pelos 3 pontos em Guimarães. Acabou por perder e ninguém ficou surpreendido.

Depois do jogo de ontem, creio que muitos dos que defendiam a continuidade de Rui Barros como técnico pensarão agora duas vezes. "Il piccolo" é de facto um grande portista mas está (ainda) longe de ser um treinador de alto nível, principalmente o treinador de que o Porto precisa neste momento.

Como se não bastasse a falta produtividade do colectivo, ontem tivemos direito a mais um erro grave de Casillas, erro esse que provou ser fatal. O excesso de confiança foi fatal ao "portero" e de forma desastrada colocou a bola nos pés do avançado vimaranense que não desperdiçou. Em condições normais, com um Porto "à Porto", um golo sofrido aos 3 ou 4 minutos de jogo seria apenas um pormenor, nada que a equipa não fosse capaz de resolver. 

Para este Porto tristonho, sem ideias nem motivação, aquele golo foi uma montanha impossível de escalar. Sem intensidade, sem profundidade e sem ideias, o F.C.Porto não conseguiu ultrapassar que o Vitória de Sérgio Conceição ergueu para defender com unhas e dentes a vantagem caída do céu.

As opções do banco também não foram as melhores e o F.C.Porto nem sequer pôde contar com um daqueles rasgos individuais que de quando em vez ajudavam a remediar o falhanço colectivo.

No final, tivemos direito a mais uma demonstração de protagonismo do árbitro que decidiu expulsar Aboubakar mostrando-lhe um manifestamente exagerado 2º cartão amarelo, por um corte com a mão. Nas imagens vê-se que o jogador não tem hipótese de retirar a mão, embora tente, dada a proximidade a que a bola é jogada pelo atleta do Vitória. Mais do mesmo.


O ensurdecedor silêncio

É difícil perceber o que vai na cabeça de quem tem responsabilidade no F.C.Porto. Ninguém da Direcção dá a cara no momento em que a liderança mais se torna necessária e os adeptos e sócios, a não ser pelos bitaites do Dragões Diário, não recebem nenhuma informação do clube.

Um clube sem sócios e uma equipa sem adeptos nada são e o F.C.Porto tem-se votado a um alheamento das bases que é difícil de compreender, sobretudo quando foi graças à militância e à resiliência que os dragões se fizeram grandes. Muito distante desta postura distante e silenciosa, que chega a ter ares de soberba arrogância.

Por muito gratos que estejam pelas conquistas do passado, como podem os adeptos ter paciência e compreensão nestes momentos.

Tem a palavra a Direcção (afirmação retórica).


Sérgio Conceição

Uma nota sobre Sérgio Conceição. Tenho por este rapaz uma grande admiração porque foi alguém que comeu o pão que o diabo amassou. Ficou órfão cedo e chegou a trabalhar na construção civil para sustentar a sua família. O mérito de quem fez uma carreira a pulso não fica esmorecido pelo seu mau feitio mas o que sobressai acima de tudo é o lado sério e profissional do actual técnico vitoriano.

Sérgio Conceição não merecia a campanha posta a circular na semana antes do jogo (de onde terá vindo?) nem o coro de vozes maldizentes dos "paineleiros" da nossa praça que puseram em causa o seu brio e profissionalismo.

sábado, janeiro 16, 2016

Suk Hyun-jun - Analisando o último reforço do F.C.Porto à lupa



Já vinha sendo falada nos últimos tempos mas só ontem foi em definitivo oficializada a contratação: o último reforço do FCPorto é Suk Hyun-jun e, independentemente do seu rendimento desportivo, já assegurou um lugar na história ao tornar-se o primeiro sul-coreano a vestir a camisola dos dragões. O jogador, que actuava até agora no Vitória de Setúbal, veio colmatar a vaga aberta no ataque do F.C.Porto após o falhanço que da contratação da "estrela de rock" Pablo Osvaldo. Os números da transferência não são conhecidos, fala-se em 1,5M de euros, e o jogador fica com uma cláusula de rescisão de 30M de euros.

Com o avançado titular Aboubakar a acusar falta de confiança e com o promovido André Silva a mostrar que ainda tem de amadurecer mais para ser uma alternativa fiável, isto apesar da sua inegável qualidade técnica, era necessário arranjar uma alternativa para o ataque. Não esqueçamos também que o F.C.Porto ainda se bate em 3 frentes: Campeonato, Liga Europa e Taça de Portugal (a Taça da Liga será já para esquecer) e ter apenas um avançado experiente para o ataque era manifestamente curto.

A questão que é agora legítimo colocar é: será Suk uma boa alternativa? Uma rápida análise das opiniões mostra uma clara divisão. Domingos Paciência, um dos melhores avançados que vi jogar de azul e branco afirmou há tempos que Suk não tem nível para o F.C.Porto. Será mesmo?


Uma carreira sem grande brilho

Suk estava a viver no Vitória de Setúbal o ano mais produtivo da sua carreira, com 11 golos em 20 jogos pelos sadinos. Os números registados até então tinham sido relativamente modestos.



Suk Hyun-jun chegou à Europa em 2009/10 por intermédio do Ajax, numa dupla aposta do clube holandês no mercado sul-coreano já que com Suk chegou também Son Heung-min. Os dois jovens jogadores acabaram por ter carreiras diferentes, já que Son evoluiu e actualmente actua no Tottenham, depois de uma carreira de sucesso na Bundesliga, enquanto Suk nunca conseguiu brilhar.

Foi cedido ao Groningen onde, em 28 jogos apenas registou 5 golos e já com a época de 2012/13 em curso, chegou ao campeonato português para representar o Marítimo, apontando 4 golos em 14 jogos. Na temporada seguinte rumou ao Al-Ahli da Arábia Saudita, naquilo que muitos preconizaram como o fim da aventura europeia do jogador. Depois de uma época modesta (14 jogos/2 golos), acabou contudo por regressar a Portugal e novamente à Madeira, para representar o Nacional, registando 5 golos em 19 jogos.

Daí chegou finalmente ao Vitória de Setúbal, clube onde finalmente conseguiu alguma estabilidade para alcançar um rendimento mais interessante para a posição que ocupa no terreno, com 5 golos em 21 jogos na primeira época e 11 golos em 20 jogos na época actualmente em curso. O rendimento entretanto apresentado acabou por lhe valer o regresso às convocatórias da selecção do seu país, onde já apontou 2 golos em 5 jogos na qualificação para o Campeonato do Mundo 2018.

A transferência de Suk para o F.C.Porto surge portanto como o ponto mais alto da carreira do jogador.

Impacto na Coreia do Sul

A comunicação social sul-coreana deu algum destaque a esta transferência. O Korea Times, por exemplo, destaca a importância do F.C.Porto, descrito como um dos grandes clubes europeus e uma verdadeira "fábrica de futebol", pelas estrelas que produz. O Donga é mais comedido na descrição da notícia mas titula-a como uma transferência de grande prestígio para o jogador. O Chosun lança o debate à volta do número que o jogador irá utilizar, referindo a hipótese de usar o que era de Pablo Osvaldo, e enumera as estrelas actualmente no plantel do F.C.Porto.

Independentemente do teor das notícias e da produção que Suk venha a ter, uma coisa é já certa: embora não traga "charters de coreanos" a Portugal, esta transferência vem dar visibilidade à marca F.C.Porto no Sudeste asiático


Um jogador com características diferentes

Suk não é propriamente um primor de técnica mas é alto (1,90m) e possante e também possui um remate fortíssimo o que o torna capaz de marcar golos como este, aos 49 segundos deste vídeo:


Não havendo avançados capazes de fazer a diferença e a preço da uva mijona, devemos encarar esta aposta do F.C.Porto como uma aposta num jogador experiente, que pode ser uma alternativa útil a Aboubakar em muitos dos jogos da actual temporada e que possa trazer algo mais à equipa a partir do banco em momentos em que seja necessário jogar deliberadamente ao ataque. Não confundindo os dois jogadores, será uma aposta ao nível da que foi feita no austríaco Mark Janko.

Não sei se o jogador vai vingar ou não mas uma coisa é certa: será tremendamente errado exigir-lhe desde o início o céu e a terra, principalmente com o actual contexto de intranquilidade pós-Lopetegui. No mínimo merece o beneficio da dúvida. 

Para já, num discurso humilde, o jogador manifestou-se maravilhado pela oportunidade e afirmou que irá fazer tudo para justificar a aposta. É um bom começo.

Seja muito bem-vindo Sr Suk Hyun-jun

quarta-feira, janeiro 13, 2016

Boavista 0 x 1 F.C.Porto - Mãos de Helton seguram passagem às meias-finais



Todos estavam avisados que este jogo iria ser bem diferente do de Domingo último. Sem nada a perder, o Boavista discutiu taco a taco a eliminatória mas também contou com um Porto que se encolheu em demasia e com o rigor selectivo do árbitro que ajudou a inclinar ainda mais o campo. No final, valeu a preciosa defesa de Helton a parar um penalty nos últimos segundos do jogo.

Já se sabia que o Boavista de hoje não iria ser o Boavista de Domingo. Sem nada a perder e querendo limpar a pobre imagem deixada na goleada imposta pelo Porto, os axadrezados deram hoje uma réplica bem diferente. Tendo feito apenas 3 alterações em relação ao último jogo, com Helton na baliza em vez de Casillas, Evandro no lugar de André e Varela no lugar de Corona, Rui Barros não quis correr riscos e as alterações resultaram em pleno. Até se lesionar, Evandro esteve sempre muito irrequieto e só com falta foi sendo parado pelos axadrezados e Varela fez o seu melhor jogo da época até agora.

O Porto voltou a entrar procurando ser agressivo na frente e tentando jogar rápido e com verticalidade, tentando colocar a bola rapidamente no ataque para explorar a velocidade dos seus atacantes. O golo foi uma consequência disso mesmo: recuperação de bola no meio campo e passe rápido para a corrida de Brahimi que, não se intimidando com os 4 defesas que levou consigo, trabalhou bem e atirou para o fundo da baliza.Facto assinalável, nessa jogada e contando com o argelino, o Porto colocou 5 jogadores em zona de finalização!

Depois veio a lesão de Evandro que levou à entrada de Imbula e, com o francês a léguas do que já lhe vimos fazer, o Boavista equilibrou mas sem colocar a baliza de Helton em risco.

Após o intervalo assistimos a um jogo completamente diferente. O Boavista apertou e o Porto recuou, repetindo um pouco o filme que já tínhamos visto no Domingo. O pior veio depois, quando o árbitro entendeu expulsar Imbula por pisadela a um adversário, quanto a mim um exagero no capítulo disciplinar. 



Eu pergunto: se o árbitro considerou esta falta merecedora de expulsão, porque não usou do mesmo critério em relação a Idris, quando o jogador do Boavista pisou deliberadamente Herrera por trás? Aliás, este jogador usou e abusou do jogo faltoso, beneficiando da complacência do árbitro. Que o diga Maxi Pereira que, no chão, foi repetidamente atingido por Idris e acabou por ser o uruguaio a ver o amarelo!

Com um jogador a mais, o Boavista apostou tudo no ataque e o Porto desistiu de o fazer. O melhor que conseguiu fazer foi numa jogada em que Herrera rompeu pelo meio mesmo agarrado por um jogador do Boavista durante largos metros (o árbitro viu, fez menção de apitar falta mas desistiu e nem sequer agiu depois disciplinarmente aquando da interrupção de jogo seguinte), serviu Aboubakar mas este dominou mal e o lance perdeu-se.

A tudo isto o Porto foi resistindo mas, quando já todos esperavam pelo fim do jogo, num último esforço o Boavista conseguiu chegar à área portista e Indi, que chegou tarde ao lance, fez uma falta completamente escusada. O árbitro não teve dúvidas em apontar para os 11 metros.

Foi então que Helton entrou para a história do jogo parando o remate de Abner (cuja juventude tremeu no momento de decisão) e segurando o apuramento do F.C.Porto para as meias finais da Taça de Portugal. Ironicamente, minutos antes tinha sido Indi a salvar Helton de uma situação constrangedora quando o guarda-redes hesitou numa saída e Uchebo atirou para a baliza deserta onde apareceu Indi a salvar o lance.



O objectivo principal foi conseguido, o apuramento para as meias-finais onde o Porto vai enfrentar o Gil Vicente em duas mãos, tendo tudo para chegar à final.

Há ainda muito trabalho a fazer e hoje, apesar de ter atirado duas bolas aos ferros da baliza do Boavista, o Porto tremeu desnecessária e perigosamente. Apesar de tudo, não é menos verdade que são as vitórias mais difíceis que moralizam e esta foi sem dúvida uma vitória muito difícil.

Agora, venha o Guimarães!

A carta de despedida de Julen Lopetegui

O agora ex-treinador do FCPorto publicou no seu site oficial uma carta aberta de despedida, aparentemente sentida, na qual faz alguns desabafos mostrando o seu ponto de vista sobre os factos que levaram à sua saída do clube.

O primeiro sentimento que exprime é o da gratidão para com o F.C.Porto, especialmente o presidente, pela oportunidade que lhe foi dada de trabalhar ao mais alto nível:

Para começar, obrigado ao FC Porto e em especial ao seu presidente por me ter dado a oportunidade, e a toda a minha equipa técnica, de viver uma experiência maravilhosa e exigente ao mais alto nível 

Por outro lado, confirma-se que, ao contrário dos dirigentes do F.C.Porto, Lopetegui acreditava que tinha todas as condições para continuar nas suas funções, mostrando uma confiança cega (quiçá obstinada) nas suas capacidades e na obtenção de títulos:

Ainda estávamos a tempo e com possibilidade de atingir todos os objetivos a que nos tínhamos proposto; confiávamos totalmente nisso, estávamos convencidos de poder alcançá-los e entristece-nos este afastamento a meio do caminho.

Outro dado que se retira da carta é a insatisfação do técnico perante a saída de vários jogadores titulares na última época (Danilo, Alex Sandro, Casemiro, Oliver, Jackson Martinez,...) o que o levou a ter de reconstruir a equipa, processo que leva sempre algum tempo:

Para um treinador, não é fácil aceitar que muitos dos jogadores mais utilizados saiam no final da época, mas isso significa que renderam a grande nível e acima de quaisquer egoísmos sempre se manteve a ideia de buscar o melhor para a gestão do FC Porto 


Como já referimos em artigo anterior (ver aqui) Lopetegui desde cedo foi alvo de ataques vindos dos mais variados sectores em que tudo era usado contra ele, raramente tendo a estrutura directiva do FCPorto vindo a terreiro defender o seu treinador. Foi também Lopetegui a única voz contra as situações mais duvidosas que marcaram o último campeonato (o Campeonato do Colinho). Por tudo isto e por ter sido sempre um homem frontal e sério, o basco merece o nosso respeito.

Obviamente cometeu quanto a nós vários erros que desgastaram a sua relação com os adeptos (demasiado exigentes e pouco solidários) e até com os jogadores que já não reconheceriam no seu treinador o espírito de liderança necessário para alcançar o sucesso.

Lopetegui despede-se hoje dos adeptos, jogadores e estrutura do FCPorto, com gratidão mas também com alguma mágoa. Da nossa parte exige-se também uma palavra de apreço e gratidão para com ele, por ter sido sempre indefectível na defesa do nosso clube e por, apesar dos erros, ter trabalhado incansavelmente para ultrapassar os obstáculos que encontrou.

Tal como ele diz e muito bem, a relação não terminou da melhor forma mas não é por isso que deixam de ficar as recordações de várias noites memoráveis.

Obrigado e boa sorte Julen!



terça-feira, janeiro 12, 2016

Boavista 0 x 5 FC Porto - 5 chicotadas no Bessa


Depois de um início de ano conturbado que culminou na saída do treinador, havia muitas interrogações em torno da resposta que a equipa iria dar no jogo de ontem contra o Boavista mas as dúvidas foram dissipadas e em grande estilo, com 5 golos sem resposta num terreno nada fácil pela muita chuva que caiu.

É certo que as coisas não mudam do dia para a noite e estamos ainda numa fase transitória, enquanto aguardamos pelo anúncio e chegada do novo treinador principal, mas houve diferenças entre este e o último jogo que saltaram à vista, sobretudo porque os mesmo 11 jogadores tiveram em campo uma atitude bem diferente em relação à última jornada.

Se os jogadores se sentiram feridos no seu orgulho e quiseram provar que valem mais do que aquilo que mostraram nos últimos jogos ou se Rui Barros soube passar melhor a mensagem, ele como líder e velha glória do FCPorto sabe bem o que é a mística azul e branca, o que é certo é que foi possível ver muitas diferenças entre este jogo do Bessa e os dois últimos.



Desde logo a maior verticalidade do jogo portista, com os jogadores a procurarem soltar a bola mais rapidamente e para a frente, contrariando a tendência de passe para o lado e para trás que vinha sendo uma irritante imagem de marca. Ao acelerar o jogo, recuperando as transições rápidas que pareciam ter sido esquecidas, é possível aproveitar muito melhor as qualidades de jogadores como Herrera, Corona e Brahimi, já que são velozes com a bola, sobretudo os dois primeiros, e com o espaço extra que se abre, ao não darem menos tempo à defesa adversária para se recompor, tornam-se muito mais perigosos.

Outra diferença que saltou à vista foi a quantidade de jogadores que apareciam em zona de finalização. Não estando sozinho na frente, Aboubakar já não é presa fácil para a defesa adversária, sendo-lhe mais fácil fugir à marcação e aparecer em zona de decisão. Nota-se ainda a falta de confiança que tomou conta do jogador nos últimos jogos mas, com mais oportunidades de fazer golo, será mais fácil que eles aconteçam e é de golos que um avançado vive. São eles que lhe dão confiança e à medida que a confiança aumentar, um avançado precisará de cada vez menos oportunidades para fazer golo. O camaronês fez dois, podia ter feito mais, e esperemos que este bis lhe sirva de tónico.

No comportamento da equipa notou-se ainda uma certa tremideira, principalmente no início da segunda parte, quando o Boavista se mostrou perigoso para a baliza de Casillas. Valeu aqui Corona ter tirado o 2º golo do F.C.Porto da cartola -lá está!- num contra-ataque venenoso. Um grande lance do mexicano que merece ser visto e revisto e que teve o condão de acalmar a equipa e catapultá-la para a goleada.



Na Quarta-feira há novo round no Bessa, desta feita para a Taça de Portugal. Será um jogo completamente diferente e o Boavista irá certamente querer também mostrar que vale mais que aquilo que mostrou no Domingo. Os "Olés!" que ouviu decerto lhe servirão de motivação extra.

Esperemos que o FCPorto confirme as boas indicações que mostrou aos adeptos e que consiga aquilo que todos esperamos: mais uma vitória rumo a um troféu no qual é teoricamente o principal favorito. Têm a palavra os jogadores.

sexta-feira, janeiro 08, 2016

Sai Lopetegui, regressa o Zé do Boné

Porque exprimir o portismo quando se está na mó de cima é muito fácil e porque é nas horas menos boas que mais que nunca os adeptos se devem fazer ouvir, retomamos as publicações neste blogue embora sem promessas de publicações regulares. Será quando tiver que ser e conforme a inspiração mas sempre com a mesma tónica: F.C.Porto acima de tudo!




Ao que tudo indica, chegou ao fim o ciclo Lopetegui no Porto. O treinador espanhol não resistiu ao mau ambiente que se foi criando à sua volta e também em torno da equipa, isto após um péssimo arranque de ano. O último e inglório empate diante do Rio Ave acabou por ser o golpe final numa situação que já vinha arrastando há demasiado tempo.

Lopetegui chegou ao Porto prometendo muito ao trazer consigo a aura de um treinador campeão europeu com as "Rojitas" de sub-19 e sub-21 e, ao mesmo tempo, sendo também um elemento decisivo (mas não exclusivo já que o prestígio internacional do F.C.Porto também contou) para trazer para o Dragão vários jogadores de nomeada.

Infelizmente a vida não foi fácil para o basco em Portugal. Cedo começou a cobrança, quase mal chegou a Portugal, sendo a nacionalidade do treinador e a predominância de espanhóis no plantel armas de arremesso que de vários quadrantes caíram em cima de Lopetegui.

Também desde cedo se começou a sentir que Lopetegui estava sozinho contra o Mundo. Era ele quem afrontava as instituições e comunicação social mais afoita a destacar o bom de Lisboa e o mau do Porto do que fazer um tratamento equilibrado dos factos, algo a que já estamos sobejamente acostumados. 

Veja-se por exemplo a forma como a não convocatória de Ricardo Quaresma para o Mundial 2014 foi tratada pela comunicação social e compare-se com o alarido de que foi alvo o facto de não ser primeira opção de Lopetegui na época passada. Primeiro era um arruaceiro que não merecia jogar, por se ter travado de razões com um jogador do Nacional, e depois já era um talento incompreendido por um técnico estrangeiro que preferia jogadores da sua escolha pessoal.

Veja-se também a diferença entre o tratamento dispensado às reclamações de Lopetegui em relação à arbitragem (o colinho que na fase menos boa do Benfica, no ano passado, conseguiu manter os encarnados vivos) e as do sacro-santo Jesus, então de vermelho equipado. Sintomático.

Da SAD portista, sobram os dedos de uma mão para contas as vezes que saiu alguém a terreiro para defender o técnico. Só me lembro das recentes declarações de Pinto da Costa, antes do final do ano de 2015. De resto nada! Lopetegui esteve sempre isolado contra tudo: a comunicação social e os adeptos, mais depressa contagiados por aquilo que é negativo do que pelo que é positivo.

É certo que Lopetegui tem responsabilidades no que aconteceu mas não é o único responsável. A obsessão do basco pela rotatividade jogou várias vezes contra si ao impedir a estabilidade da equipa. Várias foram as situações em que, após um conjunto de boas exibições e quando se pedia estabilidade, o treinador decidia mudar mais de meia equipa, resultando daí um resultado menos bom.



Também a táctica pode ser questionada, ao privilegiar a posse de bola sem acutilância, valendo não raras vezes o génio individual deste ou daquele jogador para resolver o jogo.

Já aqui falei dos adeptos mas volto ao tema. Tem-se notado nos últimos anos uma mudança de comportamento de grande parte dos adeptos do F.C.Porto, um certo -passe a expressão- aburguesamento reivindicativo. Manifestam-se mais na crítica do que no apoio e quando assim é, a equipa perde o 12º jogador para o adversário. Veja-se a diferença em termos de comportamento em relação aos adeptos de outras paragens, mais a Sul, sempre prontos a fazer-se ouvir em alto e bom som contra o adversário e infernizando a vida aos árbitros. No Porto é diferente, chegando-se a ouvir assobios logo nos primeiros minutos de jogo... dirigidos ao próprio F.C.Porto! 

Os jogadores também têm a sua quota-parte de responsabilidade. Com intranquilidade é mais complicado render, é certo, mas é notório que há alguns "craques" mais interessados em mostrar-se para conseguirem bons contratos noutras paragens do que em lutar pela equipa. Outros há que não parecem interessados em coisa nenhuma a não ser no pagamento no final do mês. Sinais claros que a liderança já se tinha diluído.

Se isto não muda, só muito a custo os títulos voltarão ao Dragão até porque, se a cada treinador nenhum tempo é dado e a cobrança começa precocemente, não haverá tranquilidade nem confiança para desenvolver trabalho. 

A questão que irá dominar os próximos tempos é quem será o novo treinador do Porto, sendo avançados vários cenários: Nuno Espírito Santo, nesta altura um treinador livre e já várias vezes elogiado por Pinto da Costa, André Villas-Boas, que já manifestou o seu descontentamento em São Petersburgo, Luís Castro, que tem conduzido os B num percurso notável na II Liga, entre outros.

A última opção será para mim a menos desejável pois isso significaria expor novamente o bom profissional que é Luís Castro a uma situação altamente desgastante e estragar aquilo que tem sido um excelente trabalho de valorização de jovens. Villas-Boas será nesta altura pouco provável, visto que está ainda em contrato com o Zenit e o clube russo não estará muito receptivo a ficar sem o seu treinador a meio do campeonato, com tanto ainda em jogo. Nuno Espírito Santo, já várias vezes elogiado por Pinto da Costa, será para já a opção mais provável mas só os próximos dias dissiparão as dúvidas. Acredito que o facto de conhecer previamente os cantos à casa para acelerar a integração será sem dúvida um factor de peso na decisão.

Até lá, a única coisa que importa é apoiar o F.C.Porto e os seus jogadores, já na próxima jornada contra o Boavista. O campeonato está ainda totalmente em aberto e todos irão ainda perder pontos pelo que tudo pode acontecer.

A Lopetegui resta agradecer pelo tempo como treinador do Porto e lamentar que não tenha tido mais sucesso. Pessoalmente, era uma figura com quem simpatizava, alguém com um discurso assertivo e que não fazia das conferências de imprensa as peixeiradas a que se assiste por aí. Desejo-lhe sinceramente muita sorte no futuro, excepto se reencontrar o Porto como adversário.