O FCPorto cumpriu o seu objectivo fundamental da conquista dos 3 pontos, após um jogo difícil e graças à crença e à capacidade de sacrifício dos seus jogadores. Depois de 70 minutos sem soluções, a entrada de Guarín conferiu capacidade para o último fôlego que fez ruir a muralha colchonera. Falcao apresentou-se à Europa e, fazendo recordar velhas glórias, ganhou o seu lugar de direito na montra europeia.
Jesualdo já na véspera havia lançado o aviso: a fragilidade do Atlético de Madrid não contava para nada neste tipo de desafios e isso comprovou-se em campo, sobretudo na primeira parte onde os colchoneros estiveram perto de marcar em algumas ocasiões.
O FCPorto jogou como se esperava, apresentou praticamente o mesmo onze do jogo contra o Sporting, excepção feita à entrada de Tomás Costa para o lugar do castigado Fernando e aí residiu a principal fonte das dificuldades da equipa em desenvolver jogo.
O Atlético apresentou-se no seu habitual 4-4-2 e a sua linha intermédia foi durante maior parte do jogo capaz de ganhar ascendente sobre os 3 médios do FCPorto e, ao contrário do último jogo, sem Fernando, a equipa não tinha um médio capaz de, não só fechar os espaços (algo que Tomás Costa fez geralmente bem) mas também de carregar a equipa na primeira fase da transição ofensiva, algo que ficou apenas a cargo de Meireles e Belluschi, com Mariano a passar o jogo todo a tentar compensar. Com Pereira com menos confiança que Fucile e a evitar subir no terreno, a ala esquerda do FCPorto ficou "coxa" durante larga parte do jogo. Meireles andou perdido durante a primeira parte, perdido entre a "tentação" de ajudar Tomás Costa e o seu habitual papel de médio de circulação. Belluschi, sem espaços, não foi capaz de conferir aquela capacidade de romper linhas que o caracteriza mas esteve muito bem noutro aspecto que tem vindo a desenvolver: a ajuda defensiva.
Contra 4 defesas adversários, todos eles centrais de raíz, Falcao e Hulk não conseguiam dar seguimento às jogadas de ataque, sobretudo Falcao que, muitas vezes, tinha de vir ao meio campo tentar pegar no jogo, sempre com muita entrega. Já Hulk, outra vez mais encostado à direita, desenvolveu várias iniciativas individuais interessantes embora depois as mesmas não tenham tido a sequência desejada por falta de apoio no ataque. Falta a Hulk ainda a capacidade de definir claramente quando deve jogar para a equipa e quando deve ir para cima do adversário e terá sido isso a espaços a levá-lo a retrair-se diante de Perea. Ainda assim, foi sempre uma fonte de perigo para o defesa madrilenho que a certa altura teve uma entrada muito dura que motivou a exibição do cartão amarelo.
Quanto à defesa esteve geralmente segura, excepto por alguns "calafrios" desnecessários na sequência de cantos em que os defesas centrais não ficam isentos de culpas. Já os laterais estiveram muito bem, Pereira menos bem a atacar, e quanto a mim Fucile foi o homem do jogo. Anulou praticamente todas as jogadas de perigo pelo seu flanco e a prova maior do seu desempenho foi ter levado à substituição do seu adversário directo: Simão Sabrosa, o lendário "hobbit" encarnado. Curiosamente, acabaria o jogo a explicar a Reyes o essencial da arte de bem defender e este também nada trouxe de novo ao Atlético de Madrid. Grande jogo portanto de Fucile.
Na baliza esteve também um Helton muito atento que, com um par de intervenções de grande nível, evitou o golo do Atlético de Madrid, primeiro numa desatenção de Tomás Costa que deixou a bola sobrar para Aguero e que este, sem confiança para progredir, rematou com violência de fora da área, e mais tarde a responder bem a um disparo de Ujfalusi na sequência de um momento mais... como lhe chamar... atentatório ao Fair Play, uma vez que Rolando ficou no chão no início da jogada após levar com a bola no estômago.
O momento do jogo foi a entrada (tardia) de Guarín. O colombiano mal entrou deu logo o mote ao não fazer cerimónias à entrada da área adversária a rematar para mais uma defesa do jovem De Gea, guarda-redes chamado a substituir o titular Roberto logo aos 25 minutos e que não acusou particularmente o nervosismo da estreia. Este remate de Guarín como que ajudou a acordar a equipa mas, a vantagem mais importante da entrada do colombiano que levou ao recuo de Meireles para a posição 6 foi uma vantagem 2 em 1. Primeiro o FCPorto passou a ter um médio possante e com capacidade de transporte de bola, capaz de criar desequilíbrio. Em segundo lugar, passava a ter na posição 6 um médio com capacidade de construção de jogo. Aqui, pela primeira vez, o meio campo do FCPorto ganhava o dinamismo e as armas necessárias para se sobrepor aos médios adversário que também já estavam desgastados e, outro dado importante, Belluschi tinha finalmente o espaço de que necessitava.
Não surpreende por isso que, pouco depois, Falcao inaugurasse o marcador num lance que tem tanto de magia como de sorte. Meireles fez um passe largo para a direita do ataque onde Hulk conseguiu espaço para entrar na área, ganhar sobre Perea e rematar para uma primeira defesa de De Gea. A bola voltou caprichosamente a Hulk que tentou novamente o remate mas falhando de forma caricata e, vendo Falcao solto de marcação, endossou a bola ao colombiano que assinou um golo de antologia digno de ser classificado como "Tributo a Madjer".
A partir daqui o Atlético já não teve força física nem anímica para inverter o rumo do jogo até porque, pouco depois, o FCPorto acabaria por chegar ao 2º golo com Bruno Alves, na sequência de um canto, a atirar de cabeça ao poste, sobrando a bola para Rolando que, completamente isolado e à boca da baliza, fez o 2º e selou a conquista dos 3 pontos.
O FCPorto irá agora receber o APOEL no Estádio do Dragão, antes de viajar até Chipre, e a atitude deverá no mínimo ser a mesma que hoje mostrou. Os cipriotas perderam hoje com o Chelsea por 1-0, num jogo nada fácil para os londrinos e, se nos lembrarmos que em Madrid o APOEL conquistou 1 ponto que chegou a saber a pouco, está tudo dito sobre os dissabores que poderão ser originados por uma atitude sobranceira.
Quanto ao Atlético de Madrid irá continuar a sua "Via Dolorosa" jogando duas vezes com o Chelsea e sabendo que se não conseguirem pontuar isso os colocará na desconfortável perspectiva de terem de disputar o apuramento para a Liga Europa com o APOEL... Mas ainda há muito tempo de jogo pela frente e muitas variáveis a considerar.
O Atlético pode para já sentir-se feliz por ir novamente bem abastecido do Dragão. Pelo segunda época consecutiva e com a cortesia sublime do FCPorto, os madrilenhos voltam a levar dois melões na bagagem (embora desta vez tenham parecido um pouco fora de prazo)
PASSATEMPO Zé do Boné
Descubra nas seguintes capas de jornal abaixo, qual dos jornais quase não soube a tempo que ontem houve jogo para a Liga dos Campeões no Estádio do Dragão. Assinale com "X" ou com a frase "O jornalinho de qualquer escola do Cerco pratica melhor jornalismo que isto".
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