O caso de Fehér, de quem, devo confessar, eu gostava bastante, fez-me recordar um grande jogador: Rui Filipe. Alguns de vocês lembram-se de o ver jogar, seja por já no início da década de 90 serem seguidores atentos do F.C.Porto, ou por outro lado graças à novel RTP Memória ou simplesmente pelas constantes dedicatórias de Pinto da Costa.
A 28 de Agosto de 1994 recordo-me, ia a caminho de um almoço de família quando a rádio informa de uma notícia terrível: Rui Filipe de 26 anos, médio do F.C.Porto havia morrido nessa manhã na sequência de um acidente de viação. Foi a consternação geral!
Mas quem era afinal Rui Filipe?
Chegado à camadas jovens do F.C.Porto na época de 1984/85 vindo do Valecambrense, chegaria a sénior em 1986/87 tendo sido emprestado ao Gil Vicente e ao Espinho sucessivamente, até que aos 23 regressou ao F.C.Porto disposto a agarrar um lugar.
Numa equipa onde se destacavam nomes como João Pinto, André, Semedo, Jaime Magalhães e onde se começavam a afirmar jovens como Vítor Baía e Fernando couto, Rui Filipe acabaria por agarrar facilmente um lugar no plantel, embora não tenha chegado à titularidade indiscutível.
Como suplente ou titular, a sua atitude era sempre de um completo profissionalismo e de uma total dedicação ao clube, fruto de uma personalidade forte e ao mesmo tempo tímida e humilde. Curiosamente, a certa altura, começou a destacar-se pelos golos que marcava, muitos deles espectaculares (quem não se recorda do grande golo na Alemanha ao Werder Bremen?). O trabalho acabou por compensar e Rui Filipe chegaria mais tarde a internacional A.
A 21 de Agosto de 1994, o F.C.Porto recebe nas Antas o Sporting de Braga de Rui Correia, José Nuno Azevedo, Barroso e Karoglan, naquele que seria o primeiro jogo do primeiro título da caminhada triunfal que levaria o clube ao inédito Pentacampeonato. Numa equipa que era treinada por Bobby Robson (depois de ter substituído Ivic na época anterior), o F.C.Porto alinhava com Vítor Baía; João Pinto (cap), Paulinho Santos, Jorge Costa e José Carlos; Rui Filipe, Secretário, Emerson, Domingos (depois Kostadinov), Drulovic (depois Baroni) e Folha.
Nesse jogo, Rui Filipe marcaria o primeiro golo aos 22 minutos, sendo o segundo marcado por Kostadinov já em período de descontos, para uma vitória por 2-0.
Três dias depois, para o primeiro de 2 jogos para a atribuição da supertaça Cândido de Oliveira relativa aos vencedores da Taça e do Campeonato da época anterior, o F.C.Porto foi à luz defrontar o Benfica de Preud'Homme, Veloso, Vítor Paneira, João Pinto e César Brito, na altura treinado por Artur Jorge. Recorde-se que nesse ano, se deu o caso caricato, só possível em Portugal, de se decidirem duas Supertaças, tendo já em 17 de Agosto anterior sido disputada a Supertaça para os vencedores das competições internas de 92-93! Nesse dia, em Coimbra, o F.C.Porto havia ganho ao Benfica por 4-3 após marcação de grandes penalidades, tendo-se registado uma igualdade a 2 golos no final do jogo.
Na Luz, o F.C.Porto alcançava uma igualdade a 1 golo que lhe abria boas perspectivas para a 2ª mão. Aos 71 minutos de jogo, Rui Filipe pega na bola, passa por 2 adversários e senta Preud'Homme com uma simulação marcando um golo bonito, o último da sua carreira. O Benfica empataria 4 minutos depois por Paneira. Aos 81 minutos, Rui Filipe recebe ordem de expulsão pelo árbitro Carlos Calheiros. Esse facto acabaria por ser fatal.
Rui Filipe ficava assim sob castigo disciplinar da Liga de Clubes e impedido de defrontar o Beira Mar, em Aveiro, no domingo seguinte, a 28 de Agosto. Na manhã desse dia, não tendo sido convocado para o jogo de Aveiro, Rui Filipe sofreria um acidente de viação fatal.
Tendo sido obrigado a disputar o jogo de Aveiro por recusa das entidades responsáveis em o adiarem, o F.C.Porto entrou em campo e venceu por 2-0, com golos de Rui Barros e Emerson. No final, os jogadores e equipa técnica abraçaram-se e choraram a perda de um grande jogador mas sobretudo um amigo.
A frase de Bobby Robson diz tudo: "A sad, sad day"
Fotografias: Revista Dragões, ano 10 nº114, Setembro de 1994
7 comentários:
O marcador do 1º golo do "Penta".
Só não foi o 1º golo do "Hexa" porque anularam um golo limpo ao Clayton ( Estádio da Luz).
O nº "6" do Futebol Clube do Porto.
Um dia ser-lhe-á dedicada essa proeza.
Eu acredito.
Duas vezes 3.
Campeeeeeeões
O FC Porto tem vasta "experiência" neste capítulo triste da morte dos que o servem. Rui Filipe, Pavão, Zé Beto, e mesmo o Zé do Boné, que já agonizava enquanto o FCP jogava a final de Basileia e veio a morrer de cancro em 1985.
Recordo-me que o FCP entregou integralmente os ordenados à familia até ao final do contrato.
O Teles Roxo, saudoso dirigente portista das conquistas internacionais dos oitentas, tambem faleceu num acidente, creio que em Espinho. E António Morais o mister em Basileia tambem.
Rui Filipe era o típico e em vias de extinção jogador à Porto.
Pouco tempo antes de morrer marcou um golaço ao ben**** em plena catredalho sentando o Preud´homme com uma finta de corpo.
Imortal.
Lembro-me muito bem do rui Filipe nos juniores do FC Porto. Pouca gente sabe que ele jogava a ponta-de-lança nas camadas jovens e só quando passou aos juniores e depois aos seniores é que se tornou médio. Ele não era médio-defensivo nem médio-de-ataque. Ele era um médio-total, jogava em todo o campo, defendia e atacava.
Para mim, e isto é uma opinião muito pessoal, se não tivesse morrido, Rui Filipe seria a par de Rui Costa o grande médio de referência dos anos 90 do futebol português.
Sem dúvida Guardabel! Era um jogador impressionante. Conseguia ter técnica e força uma combinação nem sempre bem sucedida. Na altura era já apontado como o novo "carregador de piano" do F.C.P.
O rui filipe foi e sempre será o meu jogador preferido mesmo passandos 14 anos me esqueço do melhor medio que o fcp já teve.Com sudade,amigo.
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