Depois do jogo menos conseguido a meio da semana contra o Pinhalnovense para a Taça de Portugal, que logo gerou outra onda de histeria por uma possível quebra do Dragão, o FCPorto respondeu bem frente ao último classificado. Com Falcao de regresso, o FCPorto foi sempre mais forte que a Naval e o resultado apenas peca por escasso. Ainda não foi desta que vimos a tal pressão que a comunicação social anda a vender há largas semanas.
A pressão e os assobios
Torna-se penoso ler jornais por estes dias. Segundo a comunicação social, o FCPorto está em estado crítico, à beira da ruptura. Desde os dirigentes, ao staff técnico, desde os jogadores aos adeptos, todos têm tido graves perturbações de sono devido à intensa pressão a quem sido sujeito pelo Benfica.
Entretanto, de forma incompreensível, o FCPorto continua a ganhar, jogo após jogo, ora vestindo o fato-macaco, ora, preguiçoso, cumprindo serviços mínimos, ora deslumbrando e dando verdadeiros recitais. Será que o Dragão não sabe colocar-se no seu devido lugar? Que impertinência é esta?
Hoje não houve propriamente Ópera, mas houve um jogo agradável, nem sempre bem jogado, mas sempre sem assobios e ainda bem. Há que ter sempre em conta que um campeonato ganho pelo FCPorto é sempre mais difícil do que para os lados da Luz. Aqui não há comunicação social, não há lobbies e nem sequer há vontade manifesta do Primeiro-Ministro a empurrar nesse sentido. São portanto dispensáveis os assobios e indispensável o apoio.
O jogo
A grande novidade do jogo de hoje foi o regresso de Falcao. E como muda o figurino do ataque com o colombiano, muito mais agressivo e dinâmico, criando desequilíbrios e espaços que desestabilizam qualquer defesa.
Desde o início se viu que o FCPorto tinha a preocupação de jogar rápido e ao primeiro toque, embora nem sempre da melhor forma. Alguns jogadores complicavam e outros pareciam desconcentrados (Varela, Fucile,...).
Depois de Falcao e Hulk terem tido várias oportunidades, o FCPorto conseguiu finalmente chegar ao golo num lance de pura matreirice, na sequência de um lançamento lateral onde, ironicamente, Varela e Fucile foram determinantes. O uruguaio repôs rapidamente a bola em jogo para Varela que estava vários metros adiantado em relação aos defesas, trabalhou muito bem sobre o adversário que lhe saiu ao caminho, e assistiu Falcao que só teve de encostar.
Se a perspectiva do intervalo com o resultado em 0-0 poderia criar na Naval a ilusão de intranquilizar o FCPorto, essa estratégia ruía por completo com este golo.
Aparte: No café onde eu estava a assistir, notava-se já um certo regozijo entre alguns adeptos anti-Porto que por ali se encontravam. Quando o FCPorto chegou ao golo, de imediato as vozes se levantaram reclamando pelo descarado "fora-de-jogo" em que Varela se encontrava. Como a indignação persistia, interpelei-os e perguntei se as regras haviam mudado e se agora nos lançamentos laterais também havia lugar para marcação de foras-de-jogo. Seguiram-se expressões confusas e um tímido "Ah?... Foi lançamento?... Não tinha visto...".
Se o primeiro golo era uma severa machadada na táctica da Naval, o segundo golo, - que golo!- que aconteceu logo depois, pôs claramente um ponto final na discussão da partida, até porque até então, apenas por uma vez a Naval havia incomodado Helton com um remate de Marinho ao lado. Espectacular jogada de envolvimento dos atacantes do FCPorto, com Varela, Falcao, Belluschi e Hulk a trocarem a bola ao primeiro toque entre os defesas, com o brasileiro a marcar o 15º no campeonato.
Na segunda parte a supremacia manteve-se. Foram necessários apenas 8 minutos para o FCPorto ampliar a vantagem com uma assistência de Helton com uma reposição manual para Hulk no meio campo contrário (!!), beneficiando de uma má abordagem de Orestes ao lance, que se isolou e na cara de Salin fez o 2º no jogo e o 16º no campeonato.
A partir daí o ritmo baixou, sem nada a perder a Naval também ficou um pouco mais atrevida, e embora o FCPorto tenha tido várias oportunidades para dilatar a vantagem mas foi a Naval que chegou ao golo num penalty completamente escusado cometido por Fucile. O uruguaio, que esteve num plano aceitável, continua a ter súbitos acessos de desconcentração que comprometem a equipa. Não é pois de estranhar que Villas-Boas seja relutante no que toca a dar a titularidade ao uruguaio perante a assertividade actual de Sapunaru e a indiscutibilidade de Álvaro Pereira.
Até ao final, houve ainda tempo para Fernando, James e Mariano entrarem em jogo mas o resultado já não seria alterado.
O FCPorto segue invicto na liderança com 44 pontos, fruto de 14 vitórias e 2 empates, com 8 pontos de vantagem sobre o Benfica que protagonizou em Coimbra, não uma ópera, mas uma verdadeira tragicomédia, vencendo com um golo com o braço e em fora-de-jogo. Valerá a pena ficar atento ao longo da semana para ver se Elmano será mais uma vez crucificado nos jornais desportivos como o foi após o FCPorto x Setúbal.