O FCPorto conseguiu um excelente resultado, talvez desproporcionado face ao que aconteceu em campo, frente a um Vitória de Guimarães em pico de forma e fortemente moralizado pelos resultados recentes. Na retina, apesar de alguma tremideira em determinado momento, fica uma exibição marcada pela eficácia, pelo jogo colectivo e pela subida de forma de alguns jogadores fundamental.
Confirmaram-se os sinais de retoma que tinham ficado no ar após o jogo contra o Rio Ave, em que o FCPorto ganhara pela margem mínima, mas criara um volume de jogo ofensivo extremamente interessante quando comparado com os 4 jogos anteriores.
Com uma entrada forte em jogo, a equipa tomou conta das operações durante a primeira meia hora, pressionando alto e recuperando muitas vezes a bola em zona de ataque o que possibilitou a criação de mais oportunidades de golo e manteve o Vitória em sentido, evitando que os minhotos conseguissem organizar o seu jogo e ameaçar a baliza do regressado Helton.
No entanto, há também um pormenor de índole táctica que melhorou e muito o rendimento do FCPorto que foi a inclusão de Varela em detrimento de Hulk, mantendo Belluschi como nº8. O argentino e o português foram dividindo entre si as tarefas de cobertura do flanco direito e se Belluschi conseguia ter mais espaço para se soltar para o ataque, já Varela ajudava a dar profundidade àquele flanco. Aliás, o facto de o FCPorto ter (finalmente) capacidade para explorar de forma idêntica ambos os flancos, com Pereira e Rodriguez muito activos na esquerda e Varela e Fucile no lado oposto, ajudou a desestabilizar a defesa vitoriana, criando muitos espaços sobretudo entre os centrais e os laterais contrários.
Quando o FCPorto chegou finalmente ao golo, já merecia estar a vencer por 1 ou 2 golos após vários falhanços (Falcao à barra e Nilson a mostrar-se como sempre fortíssimo entre postes). O segundo golo pode também vir a ser muito importante para o FCPorto no contexto da época, ao ser apontado por Falcao que vinha tendo algum azar e acusava falta de confiança apesar de sempre muito solidário com a equipa.
No entanto, num jogo que parecia resolvido, uma desatenção de Belluschi por excesso de confiança veio complicar tudo. Fernando foi obrigado a recorrer à falta e viu amarelo e, na marcação do livre, Andrezinho fez um grande golo para o Vitória.
Como se esperava, a segunda parte trouxe um Vitória objectivo, deliberadamente a jogar ao ataque sempre conduzido pelo renascido Nuno Assis que no entanto só não foi expulso por cotovelada em Belluschi provavelmente por não se chamar Ricardo Quaresma. Belluschi também já não tinha frescura física (ainda está a crescer nesse aspecto) para dar luta aos médios vitorianos e por isso Jesualdo esteve bem ao substituir o argentino por Guarín que veio dar novamente alma à equipa e, em duas situações muito semelhantes, proporcionou a Nilson duas enormes defesas a remates fora da área. O oportuno 3º golo, mais uma vez resultante de um livre marcado por Raul Meireles, também veio serenar a equipa que precisa ainda de trabalhar a sua capacidade mental para suportar fases mais complicadas de jogo.
Bruno Alves, verdadeiro líder em campo, escapou à marcação e atirou fora do alcance de Nilson. A partir daí o FCPorto jogou mais tranquilamente e apesar de 2 sobressaltos, foi ainda capaz de marcar o 4º golo por Rodriguez, arrumando de vez a questão num jogo cujo resultado me parece excessivo perante o que se passou em campo.
Bons sinais:
Rodriguez - Está a subir de rendimento, fruto de um crescendo de forma física e promete finalmente construir com Pereira uma ala esquerda temível. Foi importante na luta a meio campo e nunca se escondeu do jogo, procurando sempre a bola. O seu golo foi um justo prémio para um exibição voluntariosa de um grande jogador.
Varela - Como se previa, pela segunda vez na mesma época, vem afirmar-se como um grande reforço para o FCPorto. A forma objectiva como procura a linha sendo no entanto também capaz de fazer diagonais para o centro, ajuda a dar amplitude e imprevisibilidade ao jogo azul e branco. Marcou um grande golo, poderia ter marcado mais, e foi sempre importante para ajudar a estancar o jogo adversário no seu flanco apesar de na segunda parte ter perdido o seu fulgor físico. Grande jogador este que, a continuar assim, tem toda a legitimidade para se candidatar a um bilhete para a África do Sul.
Falcao - Um ponta-de-lança vive de golos e quando eles não surgem, intranquiliza-se, joga sobre brasas, as coisas parecem sair cada vez pior. Nunca tendo deixado de ser voluntarioso, Falcao já não marcava há vários jogos e o penalty falhado contra o Rio Ave foi motivo para que a imprensa, que já o caracterizou de ganancioso para logo a seguir o levar aos píncaros, logo questionar a sua titularidade. Se o remate à barra e a defesa de Nilson evitaram que o colombiano facturasse e vieram novamente fazer temer mais do mesmo, já o golo que finalmente conseguiu, pleno de oportunidade, veio confirmar o que se sabe do colombiano: tem killer instinct e só precisa de confiança. Os golos, com ou sem penalties, irão inevitavelmente aparecer.
Maus sinais
Hulk - continua a sua travessia do deserto. Desta vez Jesualdo aprendeu a lição e não o colocou na ala direita, situação que foi fatal no jogo contra o Chelsea. O brasileiro ainda mostrou um ou dois pormenores interessantes mas depois resolveu começar a inventar e perdeu-se em letras e fintas. Há realmente internacionalizações que sobem à cabeça. Em Madrid deverá começar novamente no banco.