sábado, junho 21, 2008

De virtuais campeões a campeões virtuais em 90 minutos.

Portugal perdeu ontem por 2-3 com a selecção alemã sendo difícil encontrar uma causa concreta para esta desilusão. É certo que Portugal estava avisado e já conhecia (desde há 2 anos) a forma de jogar desta Alemanha de Joachim Low que é a continuação da Alemanha de Klinsmann. No entanto, repetiram-se os mesmos erros. A ajudar a festa, jogadores desinspirados e desconcentrados, opções tácticas duvidosas, um árbitro com problemas de visão e um alemão que joga irritantemente bem contra Portugal.


A equipa portuguesa entrou bem mas algo lenta. Dominava, é certo, mas a Alemanha fechava bem, juntando muito as linhas e não dando espaço aos criativos portugueses. No entanto, aos poucos, a equipa lusa começou a esboçar alguns ataques mais perigosos, sendo exemplo disso um lance onde Simão aparece com perigo na meia direita mas optou pelo remate quase sem ângulo, até porque Nuno Gomes estava tapado e atrás não vinha ninguém. Aliás, Nuno Gomes foi sempre presa fácil da defesa alemã. É certo que marcou o golo mas fê-lo quando, na sequência de 2 passes de ruptura do ataque português, a defesa alemã se preocupou mais com Ronaldo do que com Nuno Gomes e este apareceu sozinho.


Após o primeiro aviso de Simão, Portugal conseguiu outra jogada de perigo com Bosingwa a aparecer na direita e a cruzar a meia altura para Moutinho que, em posição privilegiada, não se conseguiu decidir entre cabecear e pontapear a bola e, por reflexo, tocou com a coxa por cima. Pena para este jogador, que fez um Campeonato da Europa muito interessante, e que acabaria por sair lesionado após um toque de um alemão.


Quando se esperava que Portugal pudesse desequilibrar mais e chegar mesmo ao golo, a Alemanha marcou. O lance começa num contra-ataque pelo lado esquerdo conduzido por Podolski, Bosingwa e Pepe não conseguem cortar o lance e, no outro lado, Paulo Ferreira desconcentradíssimo (estaria a confiar nos 2 colegas?), é ultrapassado por Schweinsteiger que acorre ao cruzamento do colega e, perante um desamparado Ricardo, abre o marcador.

Aqui Portugal acusou e de que maneira o golo perdendo o controlo do jogo! A cada ataque da Alemanha, os médios começaram a encostar-se à defesa, dando espaço no meio campo para os médios alemães que assim jogavam à vontade. A Alemanha acabaria por chegar ao 2º golo num livre cobrado na esquerda por Schweinsteiger, com Mertsacker a fazer a entrada ao primeiro poste levando consigo 2 portugueses e abrindo espaço nas costas para a entrada de Klose que não teve dificuldade em bater Ricardo.


Nesta altura temeu-se o pior mas a Alemanha abrandou o ritmo para gerir o jogo até ao intervalo e Portugal começou novamente a ter posse de bola. Scolari também pediu a Ronaldo que se chegasse mais para junto de Nuno Gomes, abrindo espaço na defesa germânica.

É por esta altura que, num lance de ataque português, Nuno Gomes parece ser puxado na área. Não houve repetições mas poderá ter havido ali falta para grande penalidade que o árbitro deixou passar em claro. Contudo, pouco depois, Portugal chegaria ao golo num lance que começa em Deco, o melhor jogador em campo no lado português. O luso-brasileiro pega na bola e, com um passe soberbo, solicita Simão na direita. Este flecte para o centro e descobre do outro lado Ronaldo que atira para a defesa incompleta de Lehmann. A bola acaba por sobrar para Nuno Gomes que atira para o fundo das redes, com a bola ainda a ressaltar num defesa alemão.

Esta reacção poderia ter tido ainda mais expressão se, pouco depois, Ronaldo que apareceu novamente na área, tivesse marcado o 2º golo. Contudo a bola acabou por sair um pouco ao lado.

Ao intervalo Portugal perdia é certo, mas o golo antes do descanso tinha sido fundamental, oferecendo boas perspectivas para a 2º parte.

No reatamento Portugal entrou bem e por Raul Meireles primeiro, com um disparo ao lado, e Pepe depois, com um incrível falhanço na área após a marcação de um canto a cabecear por cima, poderia ter chegado ao golo.

Portugal não marcou e a Alemanha sentenciou o jogo novamente na marcação de um livre e desta vez por Ballack a cabecear à vontade após ter empurrado Paulo Ferreira à margem das leis. Ricardo também não fica isento de culpas neste lance ao ter uma saída... à Ricardo.

Scolari ainda tentou mexer com a entrada de Postiga e Nani para os lugares de Nuno Gomes e Petit mas o mais que conseguiu foi marcar mais um golo após um belíssimo trabalho de Nani na esquerda que cruzou para a área onde Postiga apareceu bem a fazer o golo que ainda acendeu a esperança.

Contudo, a precipitação portuguesa no remate e o espírito de sacrifício da Alemanha contribuiram para que o resultado não se alterasse mais até ao final, onde Pepe acabou mesmo a jogar como ponta-de-lança.

Fica a mágoa de uma equipa que, pelos nomes que tinha em campo e no banco, poderia e deveria ter feito muito mais contra uma Alemanha instável mas que se preparou muito melhor para este jogo, explorando as mesmas fraquezas que encontrara há 2 anos no Mundial.

Deste jogo fica a enorme atitude de Deco "O Corajoso", o eclipse de Ronaldo, os cruzamentos sem nexo de Bosingwa (da esquerda não os houve) e os remates de Portugal para a bancada. Fica também uma atitude curiosa de Scolari que responsabilizou directamente os jogadores pela derrota no final do jogo.

Termina assim o ciclo Scolari à frente de Portugal, um ciclo conturbado, com muitas escolhas discutíveis (a não convocatória de Maniche foi a última), um soco num sérvio, mas que teve o condão de unir os portugueses à volta do clube-selecção. Foi contudo melhor a motivar os jogadores do que a escolher a táctica da equipa em muitos jogos. Seja como for, Scolari marcou definitivamente uma época no futebol português e devemos estar-lhe gratos por isso.

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