O início de 2011 foi aziago para o Dragão. A recepção ao Nacional em jogo a contar para a "Taça do Hermínio" marcou o fim da série invicta do FCPorto. No entanto, o resultado é enganador. Mais uma vez, o FCPorto dominou em todas as estatísticas mas a falta de acutilância no último terço de terreno, por um lado, e 2 lances de gritante desconcentração na defesa azul e branca, por outro lado, ditaram o resultado final.
Os instantes que antecederam o jogo ficaram marcados pela homenagem prestada por 30.000 portistas ao falecido Pôncio Monteiro, brindando-o com uma estrondosa salva de palmas.
Quanto ao jogo, Villas-Boas operou várias mudanças e, verdade seja dita, apesar das alterações e de se tratar do 1º jogo após a pausa natalícia, o FCPorto foi dominador, especialmente na segunda parte (ironicamente quando perdeu o jogo). Com Kieszek, Fucile, Sereno, Emídio Rafael, Ruben e Walter no onze, jogadores habitualmente menos utilizados, o FCPorto não conseguiu na primeira parte ser pressionante como poderia e deveria ter sido.
Os 30.000 espectadores tiveram de esperar até à segunda parte para ver um FCPorto "à FCPorto". Mandão, a encostar o Nacional à sua área, o FCPorto dominou em todos os índices estatísticos do jogo... excepto no da eficácia. Aliás, quando Hulk inaugurou o marcador, na marcação de uma grande penalidade a castigar uma falta sobre Walter, pensou-se que a vitória já não fugiria ao dragão, tal a superioridade evidenciada. Puro engano!
Aos 77 minutos, uma falha inadmissível de Kieszek permitiu que o Nacional chegasse ao 1º golo. Ao atacar a bola num cruzamento de forma completamente desconcentrada, já a pensar em repor rapidamente a bola em jogo antes de pensar em a agarrar, esta ressaltou por baixo das pernas do guarda-redes polaco e sobrou para Anselmo que não perdoou.
Poucos minutos depois, novamente por Anselmo, o Nacional desferiu a machadada final no jogo, mais uma vez contando com uma falha inadmissível da defesa. Primeiro um jogador do Nacional aparece sozinho na esquerda, nas costas da defesa portista, cruzando para o centro da área onde Sereno perdeu completamente a noção do espaço em termos de posicionamento, deixando o avançado insular completamente à vontade para fazer o golo. Sereno voltaria novamente a estar em destaque pela negativa ao cometer falta para grande penalidade sobre Pecnik que Olegário não viu. Uma noite para esquecer.
Até ao final, o FCPorto ainda teve forças para ir à procura do golo mas faltou serenidade e acutilância nos últimos metros do terreno. Com várias faltas sucessivas do Nacional e consequentes paragens de jogo, os insulares tiveram o mérito de ir quebrando o ritmo de jogo, conseguindo o feito que mais ninguém havia conseguido esta época: derrotar o FCPorto e ainda por cima no Dragão.
Consequências
Pondo de parte o facto da perda de 3 pontos na Taça do Hermínio, deixando o FCPorto na obrigação de vencer os 2 jogos que faltam e depender de um deslize do Nacional para seguir em frente, há várias ilações que podem ser tiradas deste jogo. Fundamentalmente, o que mais lamento nem são os 3 pontos perdidos mas a interrupção, mais que evitável, da série vitoriosa do FCPorto. A equipa fez mais que o suficiente para ganhar o jogo e, não fossem as desconcentrações defensivas, esta seria mais uma vitória natural do FCPorto. Acabou por ser uma vitória caída do céu para o Nacional.
Por outro lado, é nítido que Kieszek não é Beto e muito menos Helton. O polaco foi contratado para ser o 3º guarda-redes do FCPorto e, nesse aspecto é um digno sucessor de Nuno Espírito Santo. Apesar de tudo, tendo em conta que, depois do jogo contra o Juventude de Évora, esta foi a segunda vez que jogou, poderá ter sido traído pelo nervosismo de querer mostrar serviço. A sua exibição até teria sido positiva, pelo que foi mostrando ao longo do jogo, se não fosse a falha tremenda que deu origem ao 1º golo do Nacional.
Já de Sereno esperava muito mais. As duas falhas tremendas que protagonizou, primeiro no 2º golo do Nacional, ao falhar completamente a marcação a Anselmo e, depois, ao fazer falta sobre Pecnik na área do FCPorto que (felizmente) Olegário não assinalou. Quanto mais vejo Sereno jogar, mais saudades tenho de Nuno André Coelho.
Finalmente, falta claramente uma alternativa no eixo do ataque do FCPorto. Sem Falcao, o FCPorto perde uma importante fatia da sua agressividade no último terço do terreno. Vejo em Walter um bom avançado, é certo, mas não para um sistema de 4-3-3 como o do FCPorto mas antes para jogar em 4-4-2, ao lado de outro avançado. A disponibilidade de Falcao tem dado pouco espaço a Walter no FCPorto mas é também essa disponibilidade que tem guindado o FCPorto para a sua performance actual... e disfarçado a insuficiência de apenas haver mais um ponta-de-lança no plantel.
Se o objectivo é apenas o campeonato, o plantel actual é suficiente mas, se os objectivos do FCPorto forem mais ambiciosos do que isso, é fundamental rectificar o plantel durante esta fase do mercado. Descartado que está Kleber, não acredito que a SAD não tenha nesta altura já outro alvo em vista.
O que vem aí
Não se deixando afectar por esta derrota, não há motivos para tal visto que a mesma foi fruto de um conjunto de circunstâncias difíceis de repetir e que o FCPorto mostrou ter a mesma capacidade que tinha antes da pausa natalícia e, ainda por cima, sem várias das suas habituais figuras principais, o mês de Janeiro pode ser um mês tranquilo com 4 jogos em casa, de um total de 6.
Para já segue-se a recepção ao Marítimo já no próximo Sábado, para depois receber sucessivamente o Pinhalnovense (Taça), a Naval e o Beira-Mar (Taça do Hermínio). Uma sequência que pode ser bem aproveitada para recuperar os índices competitivos do plantel, dando também tempo para recuperar alguns lesionados com a tranquilidade necessária.