O texto que se segue é a reprodução de uma crónica publicada ontem no Jornal Record e da autoria de Eugénio Queirós. Sem dúvida um texto a reter.
Um bom treinador pode melhorar uma equipa no máximo em 10%; no entanto, um mau treinador torna uma equipa pior em 50%". Segundo Reinhard K. Sprenger, consultor financeiro e autor de um livro ("Bem Posicionado", edição da Centro Atlântico.pt) sobre estratégias do futebol aplicadas às empresas, esta frase lapidar de Giovanni Trappattoni é "uma das mais importantes opiniões que o futebol pode pôr à disposição da economia". Nem mais.
A "Velha Raposa" italiana acrescentou 10% à equipa do Benfica que venceu o campeonato 2004/2005 mas, em condições normais, tal dificilmente seria suficiente para lhe dar o título. O que só aconteceu porque em Dezembro de 2004 o Apito Dourado rebentou também nas mãos de Pinto da Costa e atingiu o FC Porto dos pés à cabeça, criando entre os árbitros uma espécie de mecanismo de defesa sempre que dirigiam jogos dos azuis e brancos. Ou seja, na dúvida, raramente beneficiaram a equipa portista. Resultado final: Benfica campeão, depois de uma longa travessia do deserto.
É certo que nessa época o FC Porto também deu alguns tiros nos pés. Luigi Del Neri foi despedido à má fila depois do estágio na Holanda sob o argumento de que se tinha atrasado no regresso, Víctor Fernández foi campeão do mundo mas não convenceu e cedeu depois de ver os Super Dragões invadirem o terreno onde treinava e José Couceiro não conseguiu reparar os estragos, assinando uma das mais humilhantes derrotas da história do FC Porto, em casa, com o Nacional da Madeira de José Carlos Pereira, o treinador que copiou o sobretudo de José Mourinho (e não só).
Voltando à fase de Trappattoni - treinador que o Benfica fez pouco para convencer a ficar depois de proeza tão grande - que Sprenger valorizou, podemos também aplicá-la aos dirigentes. Mas aqui talvez com outros valores. Quanto vale um presidente na maximização das potencialidades de uma equipa? No caso concreto de Jorge Nuno Pinto da Costa, será exagero dizer que tem um valor acrescentado de 20%? Acho que é pecar por modéstia... Sem ser preciso enumerar os títulos conseguidos pelo FC Porto sob o comando do seu líder, até os seus adversários mais empedernidos pela doença do fundamentalismo reconhecem que se o actual presidente do FC Porto continuasse a vender fogões a hegemonia desportiva portista dos últimos anos não passaria de um sonho.
Os adeptos do FC Porto sabem o que devem a Pinto da Costa. Só por isso é que sempre lhe deram o benefício da dúvida mesmo quando sentiram que o clube podia ser penalizado por actos praticados, à margem da lei, pelo presidente. Actos - ainda não provados - ainda assim cometidos em favor do FC Porto. Numa situação de guerra, os crimes por norma justificam medalhas. E não é de uma guerra que, afinal, estamos a falar?
Uma guerra que o Benfica de Luís Filipe Vieira continua a querer perder. Agora pelo ridículo de mais um ataque. Pedir à FPF uma indemnização de 30 milhões de euros pelo facto de não ir à Liga dos Campeões na vaga do FC Porto não só é ridículo como também escabroso. O Benfica não merece estar na Champions. Na última época desportiva, nada fez por isso e até pelo Vitória de Guimarães foi comido de cebolada. A presença na Taça UEFA é um prémio se calhar imerecido. O Belenenses fez muito mais por ela...
É certo que a guerra do Benfica parece ser outra. Não consegue ganhar no campo, tenta ganhar na secretaria e nos tribunais. Mas nesse campo não se assume. Apostou num cavalo e chamou a si créditos que não lhe pertencem. E quando pretende reforçar esta frente só contribui para a descredibilização do processo. De tiro no pé em tiro no pé, o clube da Luz continua a viver na expectativa de um milagre.Ora, que se saiba, apenas Pinto da Costa costuma frequentar o santuário de Fátima.
Autor: EUGÉNIO QUEIRÓS
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